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No Alvo Segunda-feira, 17 de Junho de 2019, 08:40 - A | A

17 de Junho de 2019, 08h:40 - A | A

No Alvo / ABANDONO

Brigas familiares e drogas levam pessoas a viverem nas ruas

Levantamento da Prefeitura ouviu 212 pessoas em situação de rua na Capital



Consumo de substancias químicas e conflitos familiares são os principais motivos que levam dezenas de pessoas a morarem nas ruas de Cuiabá. O levantamento foi realizado pelo projeto “Quero te conhecer”, realizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Desenvolvimento Humano (SMASDH), em 2019. Ao todo, 130 pessoas foram encontradas pela Pasta em situação de rua pelos motivos citados - de um total de 212 entrevistados. Os dados foram coletados durante a última edição do projeto, que aconteceu do dia 3 ao dia 7 de junho deste ano. As equipes percorreram vários pontos da Capital, principalmente em lugares com maior concentração de pessoas em situação de rua - como praças, viadutos e locais públicos - com o objetivo de cadastrá-los no banco de dados.  A Rua 27 de Dezembro - conhecida como Beco do Candeeiro, localizada no Centro Histórico de Cuiabá - é um dos locais com altos índices de pessoas em situação de rua e dependentes químicos. Quem passa pela rua com um pouco de atenção consegue observar homens e mulheres dormindo nas calçadas ou fazendo uso da pasta base de cocaína nos cachimbos improvisados.  Alair Ribeiro/MidiaNewsNo Beco do Candeeiro é possível encontrar vários moradores de ruaA reportagem do MidiaNews esteve no local e pôde constatar tanto o abandono social quanto o material de uma das primeiras ruas da Capital. Os casarões - que atualmente estão prestes a desmoronar e já abrigaram ateliês de alta costura, por exemplo - são tomados por moradores em situação de rua, em busca de abrigo. Naquele dia, um dos canos vazava água no Beco do Candeeiro, virando um "chuveiro" improvisado para aqueles que vivem na região. Homens se amontavam embaixo do filete para molharem a cabeça e os corpos, espantando o calor. Os casarões históricos servem como moradia ou esconderijo para dependentes químicos e pessoas em situação de rua, como Marcelo, de 33 anos. Natural de Ponta Porã (MS), o homem negro, alto e magro, atualmente não consegue andar sem mancar por conta de dois tiros que acertaram sua perna.  "Já roubei muito, mas em uma dessas 'tomei' dois tiros de .40 e perdi sete centímetros de perna. Aqui [no Beco do Candeeiro] não sabem quem é ladrão e quem não é. Não é fácil viver aqui. Isso aqui não é lugar para ninguém", disse.  Marcelo não sabe dizer qual foi o maior período em que esteve sóbrio. Ele relatou que usa a pasta base de cocaína do momento em que acorda até a hora em que vai dormir, seja em um dos casarões abandonados ou no Morro da Luz - que também serve como refúgio para essas pessoas.  Ele tem uma esposa e um filho de oito anos. Para ele, é necessário força de vontade para deixar o mundo das drogas, impulso que no momento lhe falta.  "Minha mulher me conheceu nessa vida, falei a verdade para ela. Contei que usava drogas e fazia furtos. Ela mora com meu filho aqui na região Central, mas eu não fico em casa. Fico andando pelo Centro", contou.  De acordo com ele, atualmente, mais de 50 pessoas costumam viver no alto do Morro da Luz. Todas acabaram em situação de rua pelo mesmo problema: conflitos familiares e dependência química.  O homem ainda contou que não é díficil aparecerem pessoas com poder aquisitivo melhor para comprar drogas no local.  

Aqui [no Beco do Candeeiro] não sabem quem é ladrão e quem não é. Não é fácil viver aqui. Isso aqui não é lugar para ninguém

"Chegam homens de terno, bem vestidos, fumam uma pedra e vão embora", disse.  Marcelo já contabiliza mais de cinco passagens pela polícia por furto e tráfico de drogas. Para ele, enquanto o Estado não intervir na vida de pessoas em situação de rua e dependentes químicos, os mesmo continuarão "largados" nas ruas.  "Quero te conhecer" Durante cinco dias, 165 homens e 47 mulheres em situação de rua foram encontrados pelas equipes da Prefeitura de Cuiabá. A maioria relatou que mora nas ruas da Capital há mais de três anos. De acordo com o levantamento, a faixa etária mais encontrada é de adultos entre 31 e 40 anos - que somam 70 das pessoas encontradas pela secretaria. Em seguida, aparecem os jovens de 19 a 30 anos, que contabilizam 61 pessoas. O projeto realiza o cadastramento e direcionamento de pessoas em situação de rua. Durante as abordagens, que acontecem desde 2017, a equipe busca fazer a coleta de dados pessoais - como naturalidade e informações sobre familiares - para poderem descobrir quais tipos de ações e serviços serão necessários.  Durante a pesquisa, ainda foram encontrados 18 estrangeiros em situação de rua, sendo que 16 deles são venezuelanos. Também foram identificadas 66 pessoas que vieram de outros estados do País. No caso desses dois últimos grupos, o projeto viabiliza o retorno para o local de origem da pessoa, caso este seja o desejo dela. Também é realizado o encaminhamento para albergues, onde os desabrigados recebem alimentação e kits de higiene, além de terem acesso a outros serviços que podem ser utilizados livremente. 



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