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Opinião Quarta-feira, 17 de Outubro de 2018, 15:14 - A | A

17 de Outubro de 2018, 15h:14 - A | A

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Nobel da Paz 2018

O anúncio dos vencedores foi em homenagem à luta incansável das meninas e mulheres por direito e respeito

Mídia News



O anúncio da vencedora e vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2018 foi em homenagem à luta incansável das meninas e mulheres por direito e respeito. Desde 2015 uma avalanche de narrativas fáticas lamentáveis sobre violência sexual contra mulheres ocorreu mundialmente. Mencionado prêmio vem laurear com a visibilidade necessária o combate.   A ativista iraquiana yazidi Nadia Murad, que aos 19 anos se tornou escrava sexual no Estado Islâmico, narrou em livro todo o sofrimento em ser estuprada diversas vezes por dia por vários homens. Ela, segundo aqueles e aquelas que dela se aproximam, é alguém difícil de presenciar, face à grandiosidade e pela força esplanada. Submetida a tanta barbárie, mostra que a dor pode se transformar em motivo de batalha, sem armas de fogo.   O Estado Islâmico almeja a morte de Nadia, por tudo que diz. Entretanto, ela, sem temor, para ajudar a coibir essas atrocidades, conta o que muitas passam ao serem raptadas. Foi surrada e estuprada dia após dia, em diferentes lugares. Após, vendida no mercado para “comercialização” de Seres Humanos, recebeu tratamento pior do que se oferece a animais. Almejou muito pelo seu assassinato, no auge dos fatos.  

A ativista iraquiana yazidi Nadia Murad, que aos 19 anos se tornou escrava sexual no Estado Islâmico, narrou em livro todo o sofrimento em ser estuprada diversas vezes por dia por vários homens

Nadia teve seis membros da família executados, inclusive sua mãe e irmãos. Afirma que sua cabeça se encontra a recompensa, apesar de ter conseguido escapar por sorte. É estimado que aproximadamente 3 mil mulheres yazidis foram vítimas de abusos e estupros por parte de agressores extremistas no Iraque. Dentre uma das estratégias militares, a violência sexual é parte da sistemática empregada pelos terroristas.   O outro vencedor foi o médico Denis Mukwege e sua equipe, no atendimento de cerca de 30 mil vítimas de violência sexual na República do Congo. O profissional passou grande parte da vida adulta ajudando vítimas de violência sexual, e, ainda, a lutar por seus direitos.   Homem conhecido como “doutor milagre”, censurou ferozmente o abuso sexual contra mulheres durante o período beligerante, descrevendo o estupro como “arma de destruição em massa”.  A Unicef, dentre outros doadores e doadoras, contribuíram para que ele montasse um hospital com 350 leitos, uma unidade de atendimento móvel, e, uma forma de oferecer microcrédito para as vítimas virarem a triste página da vida. Muitas mulheres com lesões sexuais graves conseguiram se reerguer, por conta do trabalho dedicado desse homem.   É imensurável a dor dos vencedores, com tantas atrocidades que conviveram e viveram. É certo que, por muitas ocasiões, não conseguiram o sono reparador diário, só em pensar o que enfrentariam no dia seguinte.   As palavras resumem sentimentos e dores. Nadia foi enfática: “Eu me comprometo a ser a voz de quem não tem voz (...). É uma honra compartilhá-lo com os yazidis, os iraquianos, os curdos e outras minorias perseguidas e todas as vítimas, especialmente as de violência sexual, em todos os cantos do mundo (...). Convoco todos os governos a se unirem a mim a fim de combater o genocídio e a violência sexual.”   O médico Denis Mukwege por sua vez: “Posso ver nas faces de muitas mulheres como estão felizes de serem reconhecidas.”.   O tráfico humano faz vítimas habituais. Apenas sobreviventes são capazes de expor as torturas enfrentadas, quando, vivos e vivas, conseguem desvencilhar.   ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual.


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