Isana Gajo
CUIABÁ MAIS
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O Pantanal é uma das maiores planícies alagáveis do planeta. A sazonalidade das águas dá suporte à vida selvagem e tem influência direta sobre as populações humanas que dependem dela. Por isso, o pulso das águas é essencial para o funcionamento dinâmico desse ecossistema.
São nas águas sossegadas - como cresci ouvindo os pantaneiros dizerem - de seus rios, baías, lagos e corixos que uma grande diversidade de espécies da fauna encontra abrigo e alimento no Pantanal. Para peixes, mamíferos e aves, o bioma é um verdadeiro paraíso.
Para a flora, a água desempenha um papel fundamental. Muitas plantas desenvolveram adaptações para sobreviver às oscilações, seja através de raízes adaptadas à inundação ou estratégias de dispersão de sementes que aproveitam as cheias para se espalhar e germinar.
Os ciclos sazonais de cheia e seca do Pantanal trazem características únicas à sua paisagem. Esses ciclos são orquestrados pelas chuvas e pelas bacias hidrográficas que alimentam a região, como a do Rio Paraguai. Com o início das chuvas, de outubro a dezembro, as enchentes trazem consigo uma explosão de vida, iniciando um ciclo de renovação e crescimento.
Durante a estação chuvosa, também conhecida como a cheia do Pantanal, que ocorre de janeiro a março, as águas dos rios transbordam para as planícies, inundando grandes áreas. Essas inundações são essenciais para renovar os nutrientes do solo e proporcionam habitats aquáticos para a reprodução de peixes e outros animais.
Com a diminuição das chuvas, de abril a maio, temos um período de transição chamado vazante. Os rios começam a recuar lentamente para seus leitos originais, deixando para trás pequenos espaços de águas que fornecem recursos vitais para a vida selvagem.
Chegamos, então, na estação da seca, entre junho e setembro, em que o nível da água diminui consideravelmente. As áreas alagadas encolhem, forçando a fauna a se concentrar em torno dos corpos d'água remanescentes. É neste período que os cambarás, ipês e outras espécies da flora se reproduzem e a festa de flores se inicia.
Nos últimos anos, o Pantanal tem enfrentado grandes desafios, incluindo mudanças no pulso das águas devido às atividades humanas e as mudanças climáticas intensificadas por essas mesmas atividades humanas. Os extremos climáticos vêm aumentando a severidade da seca diminuindo as chuvas, afetando diretamente a dinâmica do ecossistema e ameaçando a sobrevivência das espécies e do próprio ser humano no bioma.
O pulso das águas do Pantanal sustenta uma rica biodiversidade e oferece recursos vitais para a vida humana. Para garantir a sobrevivência deste ecossistema extraordinário, é crucial adotar medidas de conservação que protejam os cursos d'água. É por isso que iniciativas como a do Polo Socioambiental Sesc Pantanal são tão relevantes.
O Polo não só detém e cuida da maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do país, a RPPN Sesc Pantanal (108 mil hectares), que presta à humanidade benefícios como a purificação das águas, reposição das águas subterrâneas, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, como também adquiriu uma área na região do Cerrado, o Parque Sesc Serra Azul (5 mil hectares). É nessa região que estão as nascentes dos rios que formam o Pantanal, cruciais para que o ciclo das águas se perpetue e a vida continue a existir.
Conhecimento, consciência e atitude é o que faz a diferença. Precisamos entender o Pantanal e as particularidades de cada época do ano porque quem conhece, cuida. E não dá para cuidar sozinho. Iniciativas como a do Sesc Pantanal são referência para o Brasil, mas a sobrevivência do Pantanal depende de cada um de nós.
Isana Gajo é bióloga do Sesc Pantanal há 10 anos