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Opinião Terça-feira, 02 de Outubro de 2018, 12:23 - A | A

02 de Outubro de 2018, 12h:23 - A | A

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Piracema. Vamos respeitar

Nós, seres humanos ditos “racionais”, devemos mais do que ninguém respeitar os ciclos naturais da vida na natureza

ROMILDO GONÇALVES



Tudo o que existe no universo se encontra em contínua transformação, evoluindo em ciclos ou períodos de duração variável. Desde o aparecimento de ambientes habitáveis, estes vêm sendo ocupados por espécies animais e vegetais que se sucedem ecologicamente em equilíbrio dinâmico, segundo as leis de fluxo e refluxo e da dissipação de energia.   O declínio, ou até mesmo a extinção de determinadas espécies, tantas vezes documentadas pela paleontologia, certamente decorreram de transformações, verificadas nesses mecanismos, motivadas por mudanças relativamente rápidas de variáveis físicas, químicas e biológicas em ecossistemas naturais e antropisados.

Especialmente no sagrado período da procriação dos peixes, nesse pequeno espaço de renovação da vida é preciso ter a consciência redobrada e evitar pescarias

Com o surgimento da espécie humana na terra = Homo Sapiens, e em todo o decorrer de história evolutiva da humanidade, o peixe foi e será sempre uma importante fonte de proteína conhecida e apreciada em todo mundo. Utilizada como singular fonte de alimento para a humanidade.   Nós, seres humanos ditos “racionais”, devemos mais do que ninguém respeitar os ciclos naturais da vida na natureza visando fundamentalmente sua preservação, conservação das espécies.   Especialmente no sagrado período da procriação dos peixes, nesse pequeno espaço de renovação da vida é preciso ter a consciência redobrada e evitar pescarias, não praticar esporte aquático, não alterar o curso das águas... Só assim a vida perpetuará naturalmente.   Para que o fenômeno da piracema possa ocorrer de forma natural, à mãe natureza sabiamente prepara o ambiente, criando todas as condições para que rios, córregos, lagos, lagoas, vazantes receba bem os peixes... No Brasil a piracema começa a partir do mês de novembro e vai até o mês de fevereiro.   Nesse período o ambiente aquático está com o nível das águas em elevação. As condições de intempéries estão perfeitas, água aquecida pelo sol, coloração amarronzada, aumento de nutrientes em suspensão... É exatamente nesse momento que os cardumes detectam as mudanças e sabem que chegou a hora.   Um radar infalível chamado sistema nervoso central, decodificam as mensagens traduzindo-as numa ordem única, subir, saltar e vencer as corredeiras rio acima, entregando-se a um duelo orgástico com as águas, até atingir a explosão da desova e o surgimento de novas vidas.   Porém para que tal fenômeno possa ser bem sucedido a natureza exige mais, é preciso que o ambiente em questão apresente as seguintes características: níveis dos rios em elevação, temperatura da água entre 22 e 28 graus, PH entre 7 e 7,4, transparência inferior a 10 cm, gás carbônico inferior a 20 PPM, horário propício para que a fecundação ocorra entre 16:00 horas e 17:00 horas.   No período que antecede a piracema o ovário maduro representa 24% de peso nas fêmeas, e os testículos maduros representam 15% do peso nos machos. 20% de gorduras são armazenados em seus corpos a serem gastos ao deslocarem rio acima, até atingir seus objetivos.   Para o cientista Manoel de Godoy, profundo conhecedor da ictiofauna brasileira, “o ser humano precisa entender e respeitar o impulso irresistível da piracema e os requisitos para que ela continue a existir”.   É muito difícil quase impossível pensar na insensibilidade humana, em não conseguir mirar a irresistível força reprodutiva da arribação selvagem e serena do Dourado, do Pintado, da Piraputanga, do curimbatá... Em duelo, orgástico, orgânicos pelos rios e córregos de mato grosso e do país buscando a perpetuação da vida.   Como disse de novembro a Fevereiro ocorre o período de defeso nos rios mato-grossenses, vamos respeitar esse espaço. Nesse período devemos ter o mínimo de dignidade com a perpetuação da vida. Pronto falei!   ROMILDO GONÇALVES é biólogo e doutorando em Agricultura Tropical


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